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Fábrica clandestina de peças de fuzis operava em interior de São Paulo

Em uma operação realizada no dia 21 de agosto, a Polícia Federal desmantelou uma estrutura clandestina de produção de peças e montagem de fuzis que funcionava disfarçada de fábrica de metalurgia no município de Santa Bárbara d’Oeste, no interior paulista.

A empresa usada como fachada, identificada como Kondor Fly Parts Indústria e Comércio de Peças Aeronáuticas, localizava-se em um distrito industrial da cidade e, oficialmente, declarava produzir peças para usinagem aeronáutica. Na prática, conforme as investigações, a estrutura era utilizada por uma organização ligada a facções criminosas para fabricar componentes de armamentos automáticos.


Funcionamento e descoberta

Segundo os autos da investigação, o esquema envolvia a utilização de máquinas de alta precisão — tornos CNC, fresadoras e centros de usinagem — equipamentos típicos de indústrias aeronáuticas ou metalúrgicas de alto nível. Estas máquinas foram adaptadas para produzir componentes de fuzis automáticos.

O início da apuração se deu quando a PF notou que dois funcionários da empresa trabalhavam em horários incomuns e transportavam caixas pesadas para um imóvel vizinho, na cidade de Americana. Esse local servia como depósito e ponto de montagem final de armas. No imóvel foram encontrados 35 conjuntos de peças de fuzis modelo AR-15, dois supressores de ruído (“silenciadores”) e dezenas de caixas com peças metálicas.


Quem eram os envolvidos

A investigação aponta os seguintes principais nomes e funções no esquema:

Gabriel Carvalho Belchior – proprietário da Kondor Fly; acusado de ceder a estrutura industrial para a operação; encontra-se foragido, consta na lista de procurados da Interpol, e acredita-se estar nos Estados Unidos.

Anderson Custódio Gomes – responsável pela programação CNC e pela coordenação da usinagem das peças.

Janderson Aparecido Ribeiro de Azevedo – operava as máquinas e havia sido preso em flagrante.

Wendel dos Santos Bastos – encarregado da logística e aquisição de insumos metálicos; recebia mensalmente cerca de R$ 69 mil em arrendamento da fábrica para a quadrilha.

Conforme o delegado responsável, o esquema vinculava‐se a facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), que figuravam como clientes ou destinatários das armas fabricadas.


Produção, escala e distribuição

As apurações da PF indicam que a estrutura tinha capacidade industrial: foram apreendidas cerca de 150 fuzis prontos e aproximadamente 30 mil peças destinadas à fabricação de armas. A estimativa é de que a planta fosse capaz de gerar até 3.500 fuzis por ano.

O armamento produzido era comercializado para outras partes do país, como o Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, aterrissando nas mãos das facções criminosas, conforme revelado. Um fuzil era vendido por valores que variavam entre R$ 8 mil e R$ 15 mil.

Uma de suas rotas envolvia o envio de peças ou armas desmontadas — por exemplo, partes embarcadas escondidas em caixas de piscinas infláveis — para montagem final no Brasil, o que evidencia o grau de sofisticação da operação.


Impactos para a segurança pública e reflexos

Especialistas em segurança pública consideram que operações desse tipo agravam significativamente o panorama de violência no país, ao fornecer armamento pesado para facções com grande poder de fogo. Segundo análise da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a maioria dos fuzis apreendidos em 2025 foi fabricada fora do Brasil ou montada em fábricas clandestinas.

A descoberta dessa unidade clandestina em São Paulo evidencia a complexificação das cadeias de produção de armas no Brasil — não apenas importação de armamentos prontos, mas produção local integrada à criminalidade organizada. Isso aponta para a necessidade de intensificar fiscalização de CNPJ, normativas de metalurgia e comércio de usinagem de precisão, bem como colaborar entre esferas federais e estaduais.


A investigação e próximos passos

A PF, por meio da delegacia de Campinas, conduziu a operação com apoio do 10º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP).
A partir da apreensão, seguem em curso investigações para identificar:

a totalidade das remessas de peças (insumos metálicos) e sua origem, nacional ou internacional;

os pontos de distribuição final das armas e seus vínculos com as facções;

a localização exata ou possível fuga de Gabriel Belchior, foragido e na lista da Interpol;

novas unidades clandestinas com perfil similar em outros estados.

Os responsáveis poderão responder por crimes graves, como organização criminosa, fabricação ilegal de armas, tráfico de armas de fogo e insumos.


Conclusão

O caso revela uma faceta pouco visível, mas extremamente grave, da indústria clandestina de armas no Brasil. Sob o verniz legítimo de uma usina de peças aeronáuticas, operou uma estrutura de alta demanda e tecnologia que abastecia grupos criminosos com armamento pesado — e que pode ter repercussão em regiões de alta violência. A detecção e interrupção de tais operações são fundamentais para enfraquecer o poder letal das facções e para proteger a segurança pública.

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